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Tenho confiado em Deus ou em mim mesmo?

Nem sempre é possível caminhar amparado pelas certezas

É feliz quem na vida apreende com tudo o que ela proporciona, e quem consegue perceber nos fatos, nas alegrias e nas decepções realidades que acrescentem positivamente ao próprio universo de compreensão a respeito da existência. Em algumas situações parece que a vida nos "puxa o tapete", quando vemos nossos sonhos e tudo o que construímos desmoronar. Tais situações podem nos ensinar muito, nos levando a compreender a vida de maneira mais autêntica e acompanhada por Deus.
Muitas vezes, sentimos "sumir nosso chão" quando algo que desejávamos muito nos é tirado, e quando o que queríamos não acontece; porém, diante de tais situações é preciso que o coração questione se, de fato, a realidade com a qual sonhávamos era o melhor para nós. 
É difícil ver nossos projetos desmoronarem, mas esses são momentos privilegiados para constatarmos se esses eram verdadeiramente os sonhos de Deus para nós. 
Deus sabe o que é melhor para nós, Ele consegue enxergar além do que conseguimos compreender, e quando entregamos a Ele as rédeas de nossa vida Sua ação se faz real em tudo e através de tudo, nos retirando de caminhos tortuosos e nos conduzindo pela estrada certa, mesmo quando não somos capazes de perceber.
Muitas vezes, construímos nossa história e pautamos nossas escolhas em ideais puramente nossos, nos amparando somente naquilo que são nossas convicções pessoais, sem submeter a Deus nossa vontade. Agindo assim corremos o risco de viver constantemente frustrados, em virtude de termos confiado em nossas próprias forças e não n'Aquele que verdadeiramente sabe do que precisamos. 
Deus nos conhece melhor que nós mesmos; Ele sabe o que, de fato, nos realizará em nossa essência.
O Cristianismo é um território onde a confiança se estabelece como "necessidade", pois nem sempre é possível caminhar amparados pelas certezas nas quais desejaríamos ancorar nossa história.
A certeza que precisa ancorar nossos passos é aquela que brota confiança no Deus que cuida de nós e que sempre tem o melhor para nós, mesmo quando tudo parece escuro.
Deus sempre está agindo, nos moldando e nos fazendo melhores. É preciso que confiemos n'Ele e em Sua maneira de agir, e não somente em nossas potencialidades e convicções.
Deus tem o melhor para nós, Ele sempre tem... É preciso confiar e permitir que Ele conduza todas as coisas, pois Ele sabe o que é o melhor.

Adriano Zandoná



Como podemos nos preparar para o Advento?

Precisamos estar prontos para o encontro com o Senhor

O Ano Litúrgico gira em torno das duas grandes festas do mistério de nossa salvação: o Natal e a Páscoa. A fim de nos prepararmos bem para essas duas solenidades de máxima importância, a Santa Igreja, com seu amor de mãe e sua sabedoria de mestra, instituiu o Advento, que nos predispõe para o Natal e a Quaresma e nos prepara para a Páscoa. Praticamente um mês e meio de Advento-Natal e três meses de Quaresma-Páscoa. O tempo chamado “Comum”, durante o ano, ajuda-nos a caminhar com a Igreja nas estradas da história, iluminados por esses mistérios de nossa fé e conduzidos pelo Espírito Santo.

Iniciamos o tempo do Advento, que assinala também o início de um novo Ano Litúrgico. No decurso dos quatro domingos do Advento, o povo cristão é convidado para preparar os caminhos para a vinda do Rei da Paz. O Cristo Senhor, que, há dois mil anos, nasceu como homem numa manjedoura em Belém da Judeia, deseja ardentemente nascer em nossos corações, conforme as santas palavras da Sagrada Escritura: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).

No Advento temos a oportunidade de nos aprofundar na expectativa do "Senhor que virá para julgar os vivos e os mortos" e na semana que antecede a festa natalina a preparação próxima para celebrar o "Senhor que nasceu pobre no Oriente". Entre essas duas vindas, o cristão celebra, a cada dia, o seu coração que se abre para o “Senhor que vem” em sua vida e renova a sua existência.

Celebrar o Natal é reconhecer que "Deus visitou o seu povo" (cf. Lc 7, 16). Tal reconhecimento não se pode efetivar somente com nossas palavras. A visita de Deus quer atingir o nosso coração e transformar-nos desde dentro. A tão desejada transformação do mundo, a superação da fome, a vitória da paz e a efetiva fraternidade entre os homens dependem, na verdade, da renovação dos corações. Somos convidados, em primeiro lugar, a aprender a "estar com Jesus", e então nossa vida em sociedade verá nascer o Sol da Justiça.

O Advento constitui precisamente o tempo favorável para a preparação do nosso coração. Deixemo-nos transformar por Cristo, que mais uma vez quer nascer em nossa vida neste Natal. Celebrar bem a solenidade do Natal do Senhor requer que saibamos apresentar a Deus um coração bem disposto, pois "não desprezas, ó Deus, um coração contrito e humilhado" (Sl 51, 19). Um coração que busca com sinceridade a conversão é fonte de inestimável comunhão com o Senhor e com os irmãos. Neste tempo de Advento não tenhamos medo de Cristo. "Ele não tira nada, Ele dá tudo".

Dom Orani João Tempesta


 Tempo de Esperança

O primeiro olhar do tempo do Advento

A Igreja acompanha os mistérios de Jesus Cristo durante os diversos ciclos da Liturgia. Com o primeiro domingo do Advento inicia-se um novo ano litúrgico. Não se trata de girar continuamente em torno de um eixo, mas de reencontrar a presença de Deus em etapas novas de nossa vida, nas quais a morte e a ressurreição de Cristo, o núcleo de nossa fé, iluminam a compreensão dos desafios de cada hora presente.

O primeiro olhar do tempo do Advento descortina o horizonte de sua volta do fim dos tempos. Olhamos para a definitiva manifestação do Cristo, quando vier em Sua glória, e clamamos com a Igreja “Vem, Senhor Jesus”. Verdadeiramente, o Senhor voltará e seremos julgados pelo amor, como Ele mesmo indicou no sermão escatológico do Evangelho de São Mateus. “O Senhor virá!”

Na conjugação do verbo da esperança, diremos depois que o Senhor vem. De fato, as duas semanas centrais do Advento abrirão nossos corações para a experiência da presença de Cristo em nossa história. Presente no próximo, especialmente nos mais pobres, presente na Comunidade, em sua Palavra e na Eucaristia. E Ele nos espera ainda no silêncio orante de nosso coração.

Para acompanhar-nos, a Igreja oferece dois "padrinhos" de Advento, o profeta Isaías e São João Batista. O profeta viu de longe e anunciou a chegada do Salvador. Com ele se aprende a sonhar alto! "Sim! As velhas angústias terminaram, desapareceram de minha vista. Sim! Vou criar novo céu e nova terra! As coisas antigas nunca mais serão lembradas, jamais voltarão ao pensamento. Mas haverá alegria e festa permanentes, coisas que vou criar, pois farei de Jerusalém uma festa, do meu povo, uma alegria. Eu farei festa por Jerusalém, terei alegria no meu povo. Ali não mais se ouvirá o soluçar do choro nem o suspirar dos gemidos. Não haverá ali crianças que só vivam alguns dias, nem adultos que não completem os seus dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos. Não alcançar os cem anos será maldição. Quem fizer casas, nelas vai morar, quem plantar vinhedos, dos seus frutos vai comer. Ninguém construirá para outro morar, ninguém plantará para outro comer. A vida do meu povo será longa como a das árvores, meus escolhidos vão gozar do fruto do seu trabalho. Ninguém trabalhará sem proveito, ninguém vai gerar filhos para morrerem antes do tempo, porque esta é a geração dos abençoados do Senhor, ela e seus descendentes. E, então, antes que me chamem, já estou respondendo, ao começarem a falar, já estou atendendo. Lobo e cordeiro pastarão juntos, o leão comerá capim junto com o boi... Ninguém fará o mal, ninguém pensará em prejudicar na minha santa montanha" (Is 65, 17-25). "O Senhor vem!"

João Batista, por sua vez, anunciou a proximidade do Reino de Deus e pregou a conversão dos corações, para preencher vales e abaixar os montes. Indicou estradas até para os desertos da vida, veredas que se abrem para o encontro com o Salvador.
Na última semana antes do Natal, aí sim, é que voltaremos os olhos para o nascimento de Jesus Cristo em Belém de Judá. É o tempo do presépio, tempo de fazer festa para o Aniversariante, que é Jesus. Com Maria, José, pastores e magos, meditaremos de novo a cena sempre nova do Deus feito homem para a nossa salvação, nascido num estábulo e reclinado numa manjedoura. “O Senhor veio!”

O tempo do Advento não é em primeiro lugar uma preparação para o Natal, já que a Igreja só reserva a última semana para isso. Advento é tempo de conhecimento de Deus que está sempre se dirigindo a nós, homens e mulheres de cada tempo. Batendo à porta dos corações, quer encontrar uma reposta de amor. É o dinamismo da fé cristã, que vai ao encontro do Senhor que vem. A madrinha que a Igreja oferece para a última etapa do Advento é a Virgem Maria. O grande Papa Paulo VI considerava o Advento o tempo mais adequado para o cultivo da devoção mariana.

Conduzidos por tais testemunhas, a Santíssima Virgem Maria, João Batista e Isaías, deixemo-nos tocar pela graça de Deus. É hora de arrumar a casa de nossa vida, para receber carinhosamente a visita de Nosso Senhor Jesus Cristo. Certamente, são muitas as coisas que ocupam nossos corações. Desfazer-se do supérfluo, olhar ao redor para a prática da caridade, escutar mais e melhor a Palavra de Deus. Tempo de graça, pois o Senhor, virá, vem e veio, Nosso Salvador, Jesus Cristo! Maranathá! Vem, Senhor!


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=12100



Cultive a alegria

Se ninguém o aplaudiu, não fique frustrado



A alegria é um farol luminoso, em cujas lentes esbarram todos os pássaros da noite" (M. De Backer).
É preciso vencer a tristeza para ser feliz; ela é fonte de muitos sofrimentos; muitas vezes, ela vem acompanhada do mau humor. Jamais dê guarida à tristeza e ao mau humor se você quiser ser feliz. Rejeite e expulse esses sentimentos do seu coração com um ato de vontade e de fé. A tristeza nos adoece e nos mata.
A Bíblia diz que "A alegria do coração é a vida do homem, e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida" (Eclo 30,22-26). Lance fora a tristeza; ela não é uma boa companhia. Não guarde mágoas, ira, inveja, rancores e ressentimentos, pois esses sentimentos envenenam o coração. Faça como o sol:
"Se algum dia você se sentir desprezado pelas pessoas, não se aborreça. Se algum dia você perceber que não valorizam os seus esforços para melhorar, não fique aborrecido, isto só lhe faria mal. Se algum dia você se sentir rejeitado e esquecido, colocado em segundo lugar, não se aborreça, não será menor por causa disso.
Se algum dia as pessoas não notarem a beleza de sua inteligência e a grandeza da sua alma, também não fique com raiva delas, você não perderá nada por causa disso.
Se você se levantar todos os dias para fazer o bem aos outros, e mesmo assim ninguém lhe agradecer por isso, não fique aborrecido, você não perdeu o mérito de suas boas obras.
Se você fez um belo trabalho e ninguém o parabenizou e aplaudiu, não fique frustrado, a sua obra continuará grande.
Se você renova todos os dias, incansável e gratuitamente,  o seu amor às pessoas, e elas não são gratas a isso, não fique triste, pois também o sol nasce todos os dias, gratuitamente, e a maioria não repara nisso. Todos os dias ele dá um grande espetáculo ao nascer, mas a maioria da plateia está dormindo e não pode aplaudi-lo".
Precisamos criar em torno de nós um ambiente feliz e alegre, expulsando dele, decididamente, o mau humor, a lamentação, a acusação dos outros, etc. Especialmente o lar deve ser um lugar onde os filhos respirem um “oxigênio” puro, e gostem dele.
Os psicólogos hoje advertem que muitos jovens são levados às drogas porque fogem de suas casas por não suportarem o ambiente de brigas, confusões e tristezas.
Alguém me contou esta história:
"Um homem chegou em casa, naquela noite, trazendo o mau humor que o caracterizava há alguns meses. Afinal, eram tantos os problemas e as dificuldades, que ele se transformara em um ser amargo, triste, mal-humorado. Colocou a mão na maçaneta da porta e a abriu. Deteve o passo e pôde ouvir a voz do filho de seus quatro anos de idade:
 – Mamãe, por que papai está sempre triste?
 – Não sei, amor, respondeu a mãe, com paciência. Ele deve estar preocupado com seus negócios.
 O homem parou, sem coragem de entrar e continuou ouvindo:
 – Que são negócios, mamãe?
 – São as lutas da vida, filho. Houve uma pequena pausa e depois, a voz infantil se fez ouvir outra vez:
 – Papai fica alegre nos negócios?
 – Fica, sim, respondeu a mãe.
 – Mas, então, por que fica triste em casa?
 Sensibilizado, o pai pôde ouvir a esposa explicar ao pequenino:
 – Nas lutas de cada dia, meu filho, seu pai deve sempre demonstrar contentamento. Deve ser alegre para agradar ao chefe da repartição e aos clientes. É importante para o trabalho dele. Mas, quando ele volta para casa, ele traz muitas preocupações. Se fora de casa, precisa cuidar para não ferir os outros, e mostrar alegria, gentileza, não acontece o mesmo em casa.
 – Aqui é o lar, meu filho, onde ele está com o direito de não esconder o seu cansaço, as suas preocupações. A criança pareceu escutar atenta e depois, suspirando, como se tivesse pensado por longo tempo, desabafou:
– Que pena, hein, mãe? Eu gostaria tanto de ter um pai feliz, ao menos de vez em quando. Gostaria que ele chegasse em casa e me pegasse no colo, brincasse comigo. Sorrisse para mim. Eu gostaria tanto...
Naquele momento, o homem pareceu sentir as pernas bambearem. Um líquido estranho lhe escorreu dos olhos e ele se descobriu chorando.
– Meu Deus, pensou, como estou maltratando minha família. E, ainda emocionado, irrompeu pela cozinha, abriu os braços, correu para o menino, abraçou-o com força e o convidou: – Filho, vamos brincar?"
Todos nós temos problemas e os teremos a vida toda. O importante é não deixá-los nos sufocar. Deus nos manda buscar e cultivar a alegria, mesmo nas horas difíceis: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus" (Fil 4, 4-7).

Felipe Aquino



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