A televisão brasileira, infelizmente,
tornou-se uma das piores do mundo no que se refere aos valores morais, à
alienação do povo e sua deseducação
Em duas oportunidades – antes de surgir as TVs católicas –, o falecido
Cardeal e ex-Primaz do Brasil, Dom Lucas Moreira Neves, publicou, no Jornal do
Brasil, dois famosos artigos sobre a televisão brasileira. Esses foram
publicados também na Revista “Pergunte e Responderemos” (n. 375, 1993, pg.
357ss)”. No primeiro texto, cujo título é J’Accuse! (Eu acuso!), o prelado
afirmava entre outras coisas:
“Eu acuso a TV brasileira pelos
seus muitos delitos. Acuso-a de atentar contra o que há de mais sagrado, como
seja, a vida. Acuso-a de disseminar, em programas variados, ideias, crenças,
práticas e ritos ligados a cultos. Ela se torna, deste modo, veículo para a
difusão da magia, inclusive magia negra, satanismo, rituais nocivos ao
equilíbrio psíquico.
Acuso a TV brasileira de destilar em sua programação e instalar nos
telespectadores, inclusive jovens e adolescentes, uma concepção totalmente
aética da vida: triunfo da esperteza, do furto, do ganho fácil, do estelionato.
Nesse sentido, merece uma análise à parte as telenovelas brasileiras sob o
ponto de vista psicossocial, moral e religioso […]
Qual foi a novela que propôs ideais nobres de serviço ao próximo e de
construção de uma comunidade melhor? Em lugar disso, as telenovelas oferecem à
população empobrecida, como modelo e ideal, as aventuras de uma burguesia em
decomposição, mas de algum modo atraente”.
Acuso, enfim, a TV brasileira de instigar à violência: A TV brasileira
terá de procurar dentro de si as causas da violência que ela desencadeou e de
que foi vítima […]”.
No segundo artigo (27/01/93), sob o título de “Resistir, quem há de?”, o
cardeal pede uma mobilização da família cristã contra isso: “Opino que a
família deve estar na linha de frente de resistência: os pais, os filhos, os
parentes e os agregados – toda a constelação familiar. Ela é a
primeira vítima, torpemente agredida dentro da própria casa; deve ser também a
primeira a resistir. É ela quem dá IBOPE, deve ser também quem o negue, à custa
de fazer greve ou jejum de TV. Cabe,
pois, às famílias, ‘formar a consciência crítica’ de todos os seus membros
frente à televisão; velar sobre as crianças e os adolescentes com
relação a certos programas; mandar cartas de protesto aos donos de televisão;
chamar à atenção os anunciantes, declarando a decisão de não comprar produtos
que financiam programas imorais ou que servem de peças publicitárias ofensivas
ao pudor, exigir programas sadios e sabotar os mórbidos para que não se diga
que o público quer uma TV licenciosa, violenta e deseducativa”.
É preciso meditar profundamente nesta grave acusação de Dom Lucas
Moreira Neves. Os pais e educadores, sobretudo os cristãos, não podem deixar as
crianças e os jovens à mercê de uma televisão baixa, imoral, deseducativa,
amedrontadora e desleal. A TV tem sido a grande promotora da destruição dos
valores morais e da família.
O próprio Walter Clark, falecido em 1997, fundador e ex-diretor da TV
Globo, também deu o seu testemunho contra essa situação, por intermédio do
jornal Estado de Minas (07/01/93, pg 13), afirmando, entre outras coisas, que
“A TV brasileira está vivendo um momento autofágico. Lamento ter contribuído,
de alguma forma, para que ela chegasse aonde chegou. A emissora está nivelando
por baixo: existem traições, incestos, impulsos sexuais incontidos, cobiça,
ódio… Tudo isso existe, mas não é só isso. A sociedade, que já está violenta,
acaba tendo no seu registro mais forte de comunicação, que é a TV, só
violência”.
Já faz quase vinte anos que esses alertas foram feitos, mas parece que
pouco mudou. É verdade que, graças a Deus, surgiram as TVs católicas, que fazem
uma “pregação sistemática de valores”, contrapondo-se a outras que fazem o
contrário: “uma pregação sistemática de antivalores”.
A televisão brasileira, infelizmente, tornou-se uma das piores do mundo
no que se refere aos valores morais, à alienação do povo e sua deseducação. O
que temos visto nos famosos “reality shows”, nas novelas e outros programas de
auditório? Algo deprimente. Jovens e artistas que expõem suas intimidades ao
público em busca de fama e dinheiro fácil, dando aos milhões de jovens mau
exemplo de vida. A única coisa nobre nesses programas é o horário; são, na
verdade, um fomento à mais mesquinha fofoca em horário nobre. Explora-se,
de modo sutil, com um marketing refinado, a miséria das pessoas, seus problemas
sentimentais, afetivos, morais, espirituais, num desrespeito profundo à
dignidade do ser humano. Ele ali é usado e enganado para dar IBOPE e
lucro, nada mais.
Esses programas e outros, repito, em horários nobres, aos quais crianças
e jovens assistem, levam-nos ao esquecimento de nós mesmos, à alienação, à
futilidade e imoralidade. São cenas contínuas de incitamento sexual,
masturbação, convite à fornicação e outras tristezas. Não há cultura, não há
formação, não há boa informação; é apenas apelo aos vícios: exibicionismo,
soberba, cultura do prazer, sexismo, pornografia, homossexualidade, competição
baixa, infidelidade conjugal, preguiça, ociosidade, intrigas, strip-tease e disputas
desumanas que levam as pessoas à exaustão física e mental. Tudo em busca de
sucesso e dinheiro fácil. Tudo contra o que nos ensina Jesus Cristo. O
importante é se tornar uma “celebridade nacional” com direito a outros
sucessos. Mas com base em que conteúdo?
A consequência de tudo isso é que se vai aumentando o número de
adolescentes grávidas, os abortos, estupros, infidelidades conjugais,
homossexualidade, casais separados, jovens abandonados vivendo no crime, na
droga e na bebida. Por outro lado, o povo é massificado.
Explora-se maldosamente o mórbido gosto natural pela fofoca e
“bisbilhotagem” da vida alheia, fazendo da massa popular como que um rebanho
que não pensa e não critica. É uma alienação e desserviço à população.
Explora-se comercialmente, “inteligentemente”, a falta de cultura de povo
oriundo de uma escola fraca; aumenta-se, como disse alguém, o seu
“emburramento”.
Ora, a lei diz que televisão – cuja concessão é do Estado – tem a missão
de educar, formar, informar, dar cultura e educação. É isso que temos visto?
Não, não e não. Temos visto uma TV que destrói a família e seus valores
sagrados. Com um faturamento financeiro enorme, vende-se alienação numa enorme
vitrine de propaganda patrocinada por ricas empresas. Uma campanha na internet
contra tudo isso chegou a anunciar: “Quem patrocina a baixaria é contra a
cidadania”, é contra o povo; então, como disse o Cardeal Dom Lucas, é preciso o
boicote dos cidadãos, especialmente dos cristãos, a quem fomenta a imoralidade.
Lutar contra tudo isso não é moralismo, mas defesa dos valores morais e
da família, coluna da sociedade. O povo brasileiro tem sido ofendido e chocado
com as barbaridades apresentadas em novelas, com cenas chocantes, palavras
chulas e obscenas, que não se pode escrever aqui. Tenta-se, de maneira sutil e
maliciosa, passar isso ao povo como “se tudo fosse normal e lícito”, como se o
sexo fosse apenas atos de genitalidade, apenas prazer sem uma visão moral e um
compromisso com a vida e com o outro, como se fossemos irracionais.
O Congresso Teológico Pastoral de Valencia, na Espanha, no V Encontro do
Papa com as famílias, disse que “a família vive uma crise sem precedentes
na história”, cujas raízes se encontram na “pressão ideológica” exercida pela
“mentalidade consumista” e pela ação de “um laicismo de raiz niilista e
relativista”.
É preciso reagir contra esse estado de coisas. Não podemos ficar calados
e inertes diante desta cultura niilista e sem Deus que quer tudo
destruir. Se não nos mobilizarmos contra isso, estaremos sendo coniventes
com a destruição da família e da sociedade, diante de Deus e dos homens.
O que queremos para os nossos filhos e netos?
Professor Felipe Aquino
Disponível em: <http://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/os-estragos-da-tv-brasileira/>
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